quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

UMA DESPEDIDA (JORGE LUÍS BORGES)

Tarde que solapou nosso adeus.
Tarde afiada e prazerosa e monstruosa como um anjo obscuro.
Tarde em que viveram nossos lábios na intimidade nua dos beijos.
O tempo inevitável transbordava sobre o abraço inútil.
Juntos dissipávamos paixão, não para nós, mas para a solidão já proxima.
A luz nos afastou; a noite chegara de repente.
Fomos até o portão com a seriedade da sombra que agora uma estrela atenua.
Como quem volta de um prado perdido eu voltei do teu abraço.
Como quem volta de um país de espadas eu voltei de tuas lágrimas.
Tarde que dura vívida como um sonho entre as outras tardes.

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